
Nos últimos anos assistimos a uma clara mudança no setor jurídico com a ascenção dos chamados ALSP’s: Alternative Legal Services Providers.
Como advogado, founder de um ALSP e tendo acompanhado, ao longo da minha vida profissional e em diversos contextos, várias startups e PME’s, consigo perceber em primeira mão a importância de garantir o suporte jurídico certo, desde o primeiro dia. Diria mais: a garantia de poder contar com esse suporte legal, desde o primeiro dia.
De forma muito direta, um ALSP presta serviços jurídicos a empresas usando métodos não tradicionais e formatados, como tecnologia e melhoria contínua de processos. Oferecem uma gama de serviços diferenciada, incluindo pesquisa jurídica, revisão de documentos, contract e litigation management, entre outros. Diferem dos escritórios de advocacia tradicionais, pois estão focados em fornecer soluções especializadas, eficientes e economicamente mais acessíveis aos clientes, alavancando a tecnologia e a inovação de processos para prestar serviços jurídicos de alta qualidade.
Quando desenhamos uma empresa, no tão “badalado” business plan, falamos de departamento financeiro, recursos humanos, comercial/vendas, logística e não só, mas o legal, a maior parte das vezes, fica para segundo plano. No entanto, refletindo, o legal está na base de todas as outras vertentes, desde os contratos de trabalho, questões fiscais, gestão de contratos e por aí fora.
Então porque não garantir à empresa e ao empreendedor, desde o primeiro dia, uma base legal sólida transversal a toda a organização e que nos garanta mais… futuro?
A verdade é que nós, os próprios Advogados, fizemos por nos tornar necessários “quando há problemas”. Não focamos numa perspetiva de antecipação e risk management, numa postura claramente a par da gestão empresarial e com foco no negócio e no futuro aparecendo, isso sim, como um mal necessário quando… o mal já está feito.
Não é essa a perspetiva de um ALSP e sobretudo não é essa a perspetiva que desde 2019 estamos a implementar na NOVA Legal e nos clientes que temos a oportunidade de acompanhar e de ajudar a alavancar.
Esta mudança e vantagens assentam em 5 pontos essenciais:
1. Pricing: Hora vs Valor
Uma das principais vantagens dos serviços jurídicos alternativos é a sua relação custo-benefício. Os escritórios de advocacia tradicionais assentam o seu modelo de negócio na faturação horária (hourly-billing) o que, para além de não permitir uma antecipação dos custos ao cliente, rapidamente se pode tornar num peso demasiado caro e, por outro lado, exige de parte a parte um dispêndio de energia e recursos na validação de horas e serviços. Vejamos: se eu, como advogado, ganho mais, quantas mais horas faturar ao meu cliente, o que é que este modelo ajuda na relação e no serviço que vou prestar?
No caso da NOVA Legal, optamos pelo conceito de value-billing – definimos um valor fixo (mensal ou por cada projeto legal) definindo em conjunto com o cliente o scope do projeto a abraçar. O cliente sabe, desde o primeiro dia o que vamos fazer e quanto vai custar. E nós também e não perdemos mkais tempo com isso. Passamos à “ação”.
2. Flexibilidade e Mindset
Quando estamos à frente de uma startup ou PME, sabemos bem que temos de ser flexíveis. O mundo e o mercado mudam a uma velocidade muitas vezes difícil de acompanhar. A par, deve andar sempre o legal. A par, não a correr atrás do prejuízo à espera que surjam os tais “problemas” que tornam os advogados necessários, na perspetiva de muitos. Um ALSP permite uma evolução do apoio jurídico mais flexível e dimensionado às necessidades reais do dia-a-dia da empresa cliente. Se a empresa cresce, existem condições para ampliar e reforçar esse apoio legal, graças a métodos eficientes e tecnologia, mas também existem condições para logo numa fase inicial garantir um acompanhamento próximo e vital para criar uma sólida base que irá alavancar todo o trabalho que os empreendedores e gestores estão a levar a cabo no terreno.
3. Tecnologia e Inovação
Uma coisa é certa: quando faturamos à hora, não queremos ser mais eficientes, mais rápidos ou mais práticos. Certo? Mas se mudarmos o mindset, passamos a entender que sim, faz todo o sentido aplicar a tecnologia e inovação à área legal. Hoje na NOVA Legal, o nosso trabalho é fortemente apoiado por diversas ferramentas tech que nos facilitam, tornam mais eficiente e garantem a segurança do mesmo – isto internamente. Mas também estamos focados em transformar esse valor para o lado do próprio cliente e por isso desenvolvemos a nossa própria plataforma legal-tech, a MLT – My Legal Team, que permite a um cliente NOVA, ter o seu próprio Legal Department as a Service no seu desktop, para além de um ponto de contacto direto com a NOVA. Desde contract management, compliance jurídico, e-sign, atualizações jurídicas, contratos automatizados e arquivo, passando ainda pelo apoio da IA – Inteligência Artificial para review de documentos acelerando e garantindo cada vez mais o que são as necessidades legais daquele cliente e empresa. Esta evolução, não se pode parar.
4. Client-centric Mindset
Com tudo o que ficou dito, percebemos que passamos de um mindset focado no próprio advogado, que “se faz” útil porque focado na resolução de problemas, para um foco no próprio cliente/negócio, na gestão de risco e antecipação, utilizando o legal como verdadeira vantagem competitiva na construção do negócio e do futuro do mesmo. Uma parceria, no fundo, real e que acontece ao lado do próprio negócio do cliente e da gestão, agindo proativamente e não apenas de forma reacionária, desde o primeiro dia.
5. Advogados Humanos
Sim, apesar de toda a tecnologia, a base de tudo isto são advogados, humanos (sem medo de virem a ser ultrapassados pela tecnologia ou IA porque entendem que com essas ferramentas, podem ser ainda melhores!).
Um envolvimento humano, com o negócio do cliente como se fosse o nosso próprio negócio. Sem títulos, sem distanciamento. Empatia e confiança, é assim que partilhamos o verdadeiro valor da nossa experiência e criamos relações duradouras.
Acredito assim, que o aparecimento dos ALSP’s está a garantir a tão necessária inovação e eficiência (e mudança!) ao sector jurídico. À medida que o sector jurídico evolui e se concentra mais na gestão e prevenção de riscos do que apenas na resolução de problemas, os ALSP estão a revelar-se um parceiro valioso para as empresas que procuram construir uma base jurídica sólida desde o primeiro dia. Ao adoptarem modelos de preços flexíveis, uma mentalidade proativa e um compromisso com a tecnologia e a inovação, naturalmente acabam por ajudar as empresas a manterem-se na vanguarda e a prosperarem num mercado em constante mudança – uma inevitabilidade imparável, até para um setor que, há séculos, se recusa fazer mudanças.
Rui Neves Ferreira
Co-Founder e Managing-Partner NOVA Legal