A implementação de canais de denúncia é uma das exigências mais significativas do Regime Geral de Prevenção da Corrupção (RGPC). Estes canais representam uma peça fundamental na arquitetura de compliance das organizações, promovendo a transparência e a responsabilização. No entanto, como advogada que acompanha de perto a aplicação deste regime, acredito que um canal de denúncias eficaz vai muito além do cumprimento legal. Ele é uma oportunidade para fortalecer a ética corporativa e construir um ambiente de trabalho baseado na confiança mútua.
Garantir a confidencialidade total e o anonimato do denunciante é mais do que uma obrigação legal; é uma demonstração clara de respeito por quem decide expor irregularidades. A experiência tem mostrado que o sucesso desse mecanismo está diretamente relacionado com a sua acessibilidade e confiança que inspira nos colaboradores. Investir em plataformas tecnológicas seguras, que permitam uploads de provas e gerem confirmações automáticas de recebimento, é um passo essencial para criar um sistema confiável.
Mas não basta implementar o canal; é fundamental torná-lo conhecido e acessível. Recomendo fortemente que as organizações comuniquem ativamente a existência do canal e promovam campanhas de sensibilização sobre a sua utilização. Além disso, sessões de formação ajudam a desmistificar o processo e a reforçar as garantias de proteção contra represálias. Estas ações criam um ambiente em que os colaboradores se sentem à vontade para contribuir com a integridade organizacional.
Outro ponto crítico é a monitorização contínua. Avaliar periodicamente o desempenho do canal, recolher feedback dos utilizadores e implementar melhorias são práticas que diferenciam organizações proativas das reativas. Um canal bem gerido não é apenas uma ferramenta de compliance, mas um ativo estratégico que fortalece a reputação e a resiliência organizacional.
Em suma, os canais de denúncia não devem ser vistos como uma obrigação regulatória, mas como uma oportunidade para consolidar a integridade e a confiança dentro das organizações. Quando bem estruturados e geridos, tornam-se instrumentos eficazes na gestão de riscos e no fortalecimento da cultura ética. A experiência tem mostrado que a verdadeira eficácia está no compromisso contínuo das lideranças em promover e aprimorar este mecanismo essencial.
Ana Rocha Alves
Partner | Head of Employment, Litigation & Public Law @ NOVA Legal
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Entretanto, pode sempre consultar alguns dos guias que criamos para o ajudar nesta transformação:
– Guia Prático: Conformidade com o RGPC